Caminhos para compreender e transformar os conflitos dolorosos

Vivemos em um constante processo de transformação controlado pela maneira como vivenciamos as nossas emoções.

Uma grande dificuldade para passar por esse processo de modo saudável é a negatividade, que tem relação com as personas, aquelas subpersonalidades que criamos ao longo da vida.

Algumas dessas personas ocupam posições principais, são as controladoras. Elas quem administram a situação e agem para evitar que a pessoa sinta dor. 

Quando seguimos o padrão da fragilidade ou estamos sensíveis sobre determinado sentimento, evitamos querer acessar ou tocar nesse ponto. As personas controladoras impedem que cheguemos até ele. 

E a negatividade costuma se repetir, criando-se um ciclo porque as nossas emoções querem e lutam para sobreviver. Com isso, deixamos de ter ações que nos fariam evoluir na forma como nos relacionamos com determinadas emoções.

Esse é um sintoma comum dos conflitos dolorosos.

A origem dos conflitos dolorosos

Os conflitos refletem a dor, o que não foi curado. As emoções negativas falam sobre dores e momentos difíceis. Isso tem muita relação com o trauma.

No trauma, a nossa parte mais sensível e mais afetada é separada da parte que pensa. Essa separação é como uma medida de proteção.

Esse deslocamento da parte que sentiu, faz com que o indivíduo mergulhe em um torpor, distanciando-se da parte que vê e controla as coisas.

Esses sentires podem ser reais ou imaginários.

Os conflitos reais são problemas geralmente graves: alguém que não possui dinheiro para se alimentar ou pagar uma moradia, alguém que está em situação de ameaça ou que vive um problema sério de saúde.

Já os imaginários surgem por causa do sofrimento. Ainda que causem dor e angústia, não estão acontecendo exatamente desse jeito.

Cada pessoa pode vivenciar uma perda ou um abandono de uma forma, por exemplo. Alguns sofrem menos, outros sofrem mais. Mas qualquer pessoa seria impactada pela sensação de fome ou frio. Qualquer um sentiria medo em uma situação de violência.

Muitos sentimentos partem do imaginário: a irritação ou o desânimo constante, a sensação de estar sendo perseguido ou de não ser amado por ninguém, o medo de amar porque sofreu antes ou o medo de perder alguém.

Isso vem da internalidade, da criação de noções boas ou ruins sobre os outros. Não há nada acontecendo no externo para justificar isso.

Por isso, é preciso se questionar qual a origem do conflito. O que causa e aumenta esse sofrimento de verdade? Porque se descobrirmos que é o imaginário, entendemos que nós damos força e energia a ele.

Quando descobrimos o problema, podemos tomar uma ação para resolvê-lo. As nossas emoções fazem com que o nosso corpo se movimente e mude o comportamento. Isso é desenvolver a lucidez e agir para viver melhor.

Os processos de negatividade

Quando pensamos no que é positivo, estamos falando sobre uma negatividade que foi transformada e ressignificada. Uma negatividade vista por uma nova perspectiva.

Reproduzimos a dor e os nossos modos de ser a partir de estímulos externos. As personas nos estimulam a acreditar em certas coisas como “verdades absolutas”, frases como:

– Eu não consigo;

– Eu não posso avançar;

– Não sou capaz disso;

– Isso não é para mim;

– Não sou evoluída a esse ponto.

No Budismo, por exemplo, o conceito de Buda se refere à libertação. Todos nós temos esse conceito dentro de nós, mas é difícil acreditarmos nisso de corpo e alma.

Jamais devemos entender a transformação como a necessidade de mudar a nossa essência. Essa essência é exatamente o que ela deve ser.

O que adaptamos é a negatividade, o padrão de comportamentos nocivos à nossa evolução.

Essa negatividade é a força que nos direciona para o conflito, para a dor, para a guerra interna. Travamos muitas guerras internas e levamos essas guerras conosco, dentro de nós, para todos os lugares.

Essas repetições, impulsionadas pelas personas, promovem um boicote à nossa evolução. Quando tentam impedir essa dor, bloqueiam também a fragilidade e a vulnerabilidade humana. E essas emoções são essenciais para o desenvolvimento da nossa consciência.

Por isso, é preciso dialogar com essas partes protetoras de modo gentil. Não se deve agir de maneira radical ou agressiva, porque essas partes estão dentro de nós e também formam quem somos.

O recomendado é repensar, retornar à mente e ao corpo. Essas partes tendem a acreditar que vamos nos tornar vulneráveis demais, que acabaremos governados pelas nossas emoções. E não é esse o caminho.

Tudo é um processo que deve ser trilhado com calma, mas que definitivamente deve ser trilhado.

Os efeitos do imaginário simbiótico

E nesse processo, a vida se desenvolve através do contato, da troca e de relações. A simbiose é essa conexão de vínculos, os seres humanos se organizando através da simbiose dos elementos do corpo.

Essa simbiose pode ser saudável, mas também pode se transformar em um parasita graças à negatividade. Uma vinculação excessiva causa dependência e faz o indivíduo perder a confiança em si mesmo e em sua autonomia.

Isso acontece por causa do imaginário simbiótico: a polaridade do bem ou mal. A noção de que existem somente os opostos extremos. Temos que ter muito cuidado com essa noção pregada por terapias instantâneas que estimulam a ideia de que, ao alcançar o Eu profundo (Self), encontramos a salvação. 

Isso é uma fuga, o que o Prof. Marcelo Pelizzoli chama de “uso de comprimidos espirituais”. É como usar esses conceitos para fugir ou amenizar os problemas que precisamos encarar de fato.

É como acreditar no ideal do amor romântico, na teoria de que existe o par perfeito, aquele que é o nosso espelho, nossa “metade da laranja”. E todas essas crenças dão margem para a evolução do narcisismo.

O narcisismo é retornar a si mesmo de maneira nociva, acreditando que o espelhamento (a reprodução de si mesmo no externo) é confortável e que não representa ameaça. É uma fraqueza, pois acredita-se que o que é igual a nós não vai nos ferir. Com isso, o indivíduo se afoga no ego e rejeita o diferente.

O ponto simbiótico é importante porque hoje vivemos um modelo de subjetividade coletiva que é muito narcisista. Criou-se a necessidade de consumir e objetificar as relações.

E o que precisamos fazer é retornar ao Self a partir de uma perspectiva de consciência. É abrir o coração e nos abrir para as levezas, o acolhimento, a busca pela tranquilidade. Assim, podemos entender que não dependemos de outra pessoa e criar relações amplas e recíprocas, de dar e receber.

Se você se identificou com esse artigo, saiba que esse conteúdo faz parte do curso: Os 5 Passos de Transformação dos Conflitos Internos (e externos) em parceria com o prof. Marcelo Pelizzoli.

Esse curso já está disponível em videoaulas gravadas e você pode adquiri-lo através desse link.

É uma ferramenta ideal para quem quer olhar para as feridas internas buscando ressignificá-las e se transformar por completo.

Você já havia pensado sobre os conflitos a partir dessa perspectiva?

Compartilhe:
0
1 Comentário
  • Marilene Maria da Silva
    Postado às 05:20h, 09 setembro Responder

    Olá,sou aluna da Universidade do Ser.
    Muito obg pela postagem. Excelente reflexão,chamado para abrir o coração,buscar aprender a lidar com as dores,traumas.

    +1

Poste um comentário