Como as suposições criam sentimentos?

Universidade do Ser, escrito por Gabriela Fagundes 

O ponto é que uma suposição é como um castelo de areia. Ela pode ser levada pelo mar…

 

Venho observando e experenciando que histórias e fantasias criam coisas na “realidade”. E para uma fantasia chegar ao fim ela precisa chegar ao seu desfecho natural.  Para uma fantasia chegar ao seu desfecho é preciso primeiro reconhecê-la como fantasia e depois sentir os resultados que ela gera. Existe uma categoria bem especifica desse arcabouço humano de criação de histórias que são as suposições.

E o que é uma suposição? Uma “suposição” é uma construção memética, uma forma de pensar sobre algo que não precisa necessariamente estar conectada à realidade. Seu Ser pode assumir qualquer coisa sobre qualquer coisa. Se você não está com atenção sobre suas suposições você pode estar jogando um vídeo game com a convicção de que você está na vida real, como naquele filme Jumanji, ou então que você está lendo um livro sem saber se é ficção ou não-ficção.

Existem vários tipos de suposições. Você pode passar por um vizinho, dizer olá e supor que ele está disponível a ter uma interação amigável e rasa com você e lhe devolver esse olá. Se ele faz isso você pode vir a sentir alegria, se ele não corresponder você pode vir a sentir tristeza, por exemplo. Assim também, você pode criar uma suposição que nunca imaginou antes como: e se eu supor que conversando com essa árvore ela irá me responder?

 

Suposições geram expectativas, que geram sentimentos.

 

Uma pesquisa que venho fazendo junto a alguns amigos é que outras formas existem de lidar com as emoções pra além de processos de cura emocional? Um processo de cura emocional é uma forma fantástica de lidar com emoções misturadas, decisões do passado e várias outras coisas. Porém, que outras formas podemos lidar como nosso corpo emocional? No caso das suposições, uma forma que venho experimentando é lidar com elas através de checks de realidades sinceros e honestos.

Um exemplo que aconteceu comigo recentemente. Eu tinha a suposição de que o que eu falo nos espaços não é válido, é uma perda de tempo. Isso era uma forma de pensar que não estava ancorada na realidade, não tinha nada nos espaços que me dizia isso, no entanto eu acreditava nisso e isso me gerava sentimentos toda vez que ia falar em algum espaço. Sentia medo de não ser boa o suficiente e estragar o espaço, sentia tristeza por cortar coisas que queria dizer porque essa suposição barrava e filtrava o que meu ser estava trazendo.

Em um clube da raiva o facilitador fez uma pergunta perigosa depois de uma partilha que eu havia feito: “eu percebo que toda vez que você termina sua fala tem um sentimento na sua voz, qual é?” Logo em seguida venho: “sinto medo de estar destruindo o espaço com o que acabei de falar, de que o que estou dizendo é inútil e uma perda de tempo“. Depois que compartilhei isso ele perguntou se eu gostaria de fazer um check de realidade sobre isso com o time, eu escolhi que sim.

Quando o facilitador perguntou a todos: “o que a Gabriela traz para aqui destrói o espaço? Levanta a mão quem sente que sim” e ninguém levantou a mão. Nesse exato momento lágrimas começaram a correr pelo meu rosto. Um grande tristeza começou a percorrer meu corpo…

Eu senti tristeza porque estava impedindo muitas vezes dos meus princípios brilhantes falarem nos espaços por causa dessa suposição. 

Nesse instante uma cura aconteceu, eu reconheci que aquilo era uma suposição minha sobre como as pessoas recebiam o que trazia. Sentir a honestidade em cada um ali e depois ouvir o quanto o que digo traz valor ao espaço desmontou completamente esse castelo de areia que havia construído sobre o valor do que digo.

 

Um outro exemplo de como venho observando as suposições nos meus processos.

 

Em um dia eu havia terminado um encontro de uma jornada que estava amparando espaço. Havia sido simplesmente incrível, sai em puro êxtase. Quando terminei o encontro estava com uns 80% de alegria, queria muito celebrar. Decidi ir no quarto em que as mulheres que moram comigo estavam conversando bem alto. Pensei, hum pode ser um bom lugar pra celebrar.

Quando cheguei elas estavam em um espaço totalmente diferente do que eu gostaria de propor. No entanto eu simplesmente cheguei e “quebrei” o espaço. Comecei a compartilhar minha alegria e isso causou uma estranheza nelas, porque elas estavam em um assunto totalmente diferente. Depois que eu compartilhei um pouco sobre como eu estava em êxtase elas começaram a voltar pro assunto antigo e me senti podada, não me senti ouvida. Fiquei ali por mais um tempo, mas havia engolido um sentimento naquele instante: tristeza. Tristeza porque eu criei uma suposição de que minha alegria havia “estragado” o espaço e uma suposição de que elas iriam querer celebrar comigo, uma suposição de que elas queriam ouvir e presenciar a expressão da minha alegria.

Sai do quarto com isso e fui pegar uma água. Um amigo estava na mesa escrevendo e ele me perguntou: “como foi a jornada?”. Comecei a compartilhar e criamos ali naquele instante um espaço de celebração. Foi incrível. Um dos espaços mais extraordinários que já vivenciei. Ali caiu a ficha de que momentos extraordinários são completamente inesperados, chegam como um dia ensolarado em meio ao inverno. É imprevisível e aquece a alma.

Depois da celebração ele percebeu que tinha outro sentimento e eu pude expressar a tristeza que tinha sentido minutos antes. Ali foi muito especial não entrar nas regras de: isso é uma emoção ou sentimento? Foi muito especial simplesmente compartilhar e permitir ir mais fundo, ali mesmo. Me permitindo sentir essa tristeza percebi que havia também uma suposição sobre minha alegria. Havia uma suposição de que expressar minha alegria era demais pras pessoas.

Ouvindo o que meus sentimentos me trouxeram pude aprender ali que posso usar meu medo por exemplo pra scanear onde e com quem posso criar esse momento de expressar minha alegria. Posso usar meu medo para adentrar os espaços e não chegar neles de supetão, invadindo espaços. A pergunta que surgiu foi como eu crio meus espaços de celebração?

Eu tinha em mente que tinha uma decisão antiga de que se eu expressar alegria vou quebrar com o espaço, vou estragar o espaço. Na verdade, nessa situação eu descobri que isso era uma suposição. Então surgiu a pergunta, qual a diferença entre suposição e decisão? (essa é uma pergunta que ainda estou investigando e ainda não tenho muitas perspectivas, mas vou permitir aqui que minhas mãos escrevem mesmo que eu ainda não saiba).

 

Qual a diferença entre suposição e decisão?

 

Qualquer um pode fazer uma suposição sobre qualquer coisa. As suposições estão mais no campo da construção de um mundo de fantasia. Uma suposição é só uma suposição, está no campo mental, das ideias. No entanto, agimos a partir disso. Com a suposição que tinha sobre o que trazia pros espaços eu deixava de agir baseado naquilo. A suposição se tornava real, eu sentia coisas a partir dessa suposição que criei. Era como se eu fofocasse pra mim mesma e acreditasse nessas fofocas que eu mesma me contei. As decisões eu sinto que vem de um lugar mais intrínseco do nosso sistema de crenças, mais constituinte. É como se as decisões fosse as regras que compõem um jogo. Que fazem o jogo ser te tal forma. As suposições seriam mais como o figurino do personagem que joga.

Uma suposição pode ser curada, por exemplo, com um check de realidade, como relatei acima. Essa suposição de que “se eu for muito alegre vai incomodar“, que eu tinha, isso é baseado em experiências que já tive. Meu sistema de crenças registra essa suposição e eu passo a acreditar nisso, isso passa a ser a realidade. Aí toda vez que sinto alegria e tento expressar volto pra esse lugar que desperta o sentimento de medo de me podarem por exemplo. Mas isso não necessariamente é uma emoção. Essas experiências me trouxeram o ouro de que em uma situação como essa eu posso checar a realidade sobre essa suposição e ai ela se desfaz.

Uma forma de você lidar com suas suposições e com os sentimentos que advém delas é checar o que realmente tá acontecendo. Aquilo que você supõe é real?

 

E por que um check de realidade?

Porque você está externalizando aquilo e ai ela pode se dissolver e você pode sentir realmente os sentimentos que aquele castelo de areia lhe provoca.

O ponto é que uma suposição é como um castelo de areia. Ela pode ser levada pelo mar. Uma decisão é algo mais profundo, tem vigas.

A conclusão que quero fechar esse artigo é que a transformação e a cura não tem fôrma e regras. Ela pode acontecer de diversas formas, das mais inesperadas. Te convido a descobrir que outras formas de cura e transformação existem por ai. Deixe a não linearidade e seus princípios brilhante lhe guiarem.

 

Possibilidade de experimento sobre suas suposições.

 

Nos próximos 3 dias observe suas suposições. A próxima vez que tiver uma suposição e perceber que é uma suposição te convido a externalizar ela. A todo momento estamos criando suposições, divida 10% de atenção para observar isso.

Por exemplo: você chega em uma conversa e tem a suposição de que as pessoas ali estão te excluindo. Você pode chegar e dizer algo como: “eu tenho a suposição de que vocês estão me excluindo porque vocês não gostam de mim. Isso é real? Vocês podem me confirmar isso?”

Veja o que acontece. Se vier sentimentos permita que eles venham, sinta-os.

E, se essas reflexões fizeram sentido para você, te convidamos para participar do LES – Laboratório das Emoções e dos Sentimentos, um espaço de prática para desenvolvimento da Maturidade Emocional. Clique AQUI para saber mais!

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