O Ego: Vulnerabilidade e Construção Identitária

Universidade do Ser e Prof. Marcelo Pelizzoli 

O enredamento no Ego: Compreendendo a Natureza e Desafios

 

O ego humano é uma das facetas mais complexas e intrigantes da nossa existência. É um elemento que desafia a compreensão e está intrinsecamente ligado à nossa consciência, individualidade e capacidade de transformar o mundo ao nosso redor. No entanto, é também uma entidade vulnerável e, por vezes, perigosa. Neste artigo, o Prof. PhD Marcelo L. Pelizzoli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nos guia por uma jornada de exploração do ego, suas origens e sua influência em nossas vidas.

Neste primeiro post, de uma série de três, vamos adentrar o mundo complexo do ego que, como nos explica o Prof. Marcelo, se por um lado tem uma função importante ligada à consciência, à individualidade, ao conhecimento e influência no mundo ao nosso redor, é o ser mais vulnerável e perigoso que já apareceu. Ele perde apenas para os fenômenos mais avassaladores das catástrofes naturais, que varrem os egos como se fossem folhas, poeira ou gotas d’água num maremoto.

 

O Ego como Constructo:

 

A tradição oriental hindu há milhares de anos percebeu que o ego é uma criação identitária, um constructo, uma crença que se mantém por vontades, pensamentos, emoções e construções mentais que não encontram base natural, corporal ou existencial para além de sua lógica e de seu conatus essendi – força de manutenção e reforço de seu próprio ser. A consciência humana é algo realmente mágico: imaginação, pensamento racional, recordação, memória, sensações, sentimentos, visualizações, fluxo mental imagético etc.. Ao mesmo tempo profundamente influenciável e moldável. E somada com a vulnerabilidade do ser mortal que somos, frágeis e abertos, gera uma entidade, um fantasma megalomaníaco que chamamos de eu; gera-se um nome, uma persona – ou seja, uma máscara – o qual é só um nome e personagem que vive uma narrativa que contaram para ele (família, comunidade, raça, religião etc.) e que contamos a cada dia para nós mesmos, para assegurarmos que existimos assim como pensamos e sentimos que deveríamos ser.

 

A Narrativa do Ego:

 

Somos, em essência, narrativas vivas. A ideia de raça, por exemplo, não tem base biológica substancial, mas é uma construção social e cultural. Buscamos apoio, concretude, e isso ocorre primeiramente em família; viemos de uma família a qual vem de outras, e de milhões de outros homens anteriores, os quais vêm de homens das cavernas, e de macacos, e de roedores, e de amebas, e de micróbios, e dos oceanos, até chegar aos materiais que estavam dentro das estrelas que explodiram e formaram o nosso planeta. Somos poeira das estrelas que, depois de bilhões de anos, tornaram-se corpos humanos e nestes desenvolveram uma coisa chamada EU, ego. Poeira estruturada João, poeira estruturada Marcelo, poeira Elza… Todas voltam um dia a ser poeira não estruturada.

O ego corporificado se expressa com frases como “Eu sou isso”, “Eu quero aquilo”, “Eu tenho”, “Eu posso”, “Eu conseguirei”, “Eu sou melhor”, “Eu serei”. Quando algo ou alguém esbarra ou passa na frente do Ego, o que pode acontecer é que, na sua fragilidade extrema – pois apoiado somente na sua identidade ou crença de sujeito – ele acaba brigando com os outros por causa disso. Às vezes, não tanto porque alguém ameaça a sua integridade, mas porque ameaça a sua crença, a sua vaidade, o seu orgulho – coisas igualmente sem substância, mas que o ego precisa justamente porque está sem substância.

 

O Ego como Estrategista:

 

O ego é o ser mais ardiloso, estrategista, esperto, e convencido ser que existe. Comparado às formigas, que somadas pesariam aproximadamente 300 vezes o peso de todos os corpos humanos, são seres miseráveis e ínfimos, que pisamos em cima a todo momento. Não valem nada, não pensam. Não tem ego. No entanto, elas são os construtores mais perfeitos. Não foram somente os macacos que provocaram feridas narcísicas ao Ego – quando Darwin mostrou que descendemos deles – mas grande parte dos seres. Se olharmos com calma para seres que não possuem ego, como as formigas e os mosquitos, podemos aprender muito sobre a grandeza, inteligência e beleza que esses seres aparentemente simples carregam consigo. Eles nos ensinam a humildade, uma qualidade que muitas vezes falta ao ego humano.

Neste trecho do artigo, o Prof. PhD Marcelo L. Pelizzoli nos convida a uma profunda reflexão sobre o ego humano, sua origem como constructo, sua fragilidade e seu papel em nossas vidas. Ele nos lembra da importância de reconhecermos nossa narrativa egóica e questionarmos suas bases, para alcançarmos uma compreensão mais profunda de quem somos e do mundo ao nosso redor. Ao aprender com a humildade das formigas e outros seres desprovidos de ego, podemos encontrar uma maneira de viver mais conscientemente e em harmonia com o universo.

Se você tem interesse em aprender mais sobre essas distinções e aprofundar no conhecimento das Personas e das Partes que nos constituem, sugerimos os cursos: “Psicologia do Self e Nossas Personas” e “Sistemas Familiares Internos: Como chegar ao EU Profundo”. 

Continuaremos essa reflexão no próximo post… Até!

 

O Ego e a Dualidade: Como Ele Molda Nossas Percepções

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