O Ego e a Dualidade: Como Ele Molda Nossas Percepções

Universidade do Ser e Prof. Marcelo Pelizzoli 

O enredamento no Ego: O Ego e sua Relação com a Dualidade

 

Em nosso último artigo, exploramos profundamente o conceito do ego humano como uma narrativa complexa, uma construção identitária que influencia nossa percepção de mundo e de nós mesmos. Agora, nesta segunda parte da série, continuaremos nossa jornada pelo mundo do ego, guiados pelo brilhante estudioso do tema o Prof. PhD Marcelo L. Pelizzoli da UFPE. Neste capítulo, examinaremos como o ego cria e mantém uma imagem de Deus à sua imagem e semelhança, bem como sua relação com a dualidade, resistência à simplicidade e projeção.

 

Deus à Imagem do Ego:

 

O Prof. Marcelo Pelizzoli nos convida a refletir sobre como o ego humano tende a criar Deus à sua própria imagem e semelhança. A frase “Fazei o homem à sua imagem e semelhança”, do Gênesis, é interpretada como uma forma de antropomorfismo, uma tentativa do ego de moldar Deus à sua própria imagem. Isso revela um dos grandes truques do ego frágil, que, sem questionar a vontade de Deus ou da natureza, assume o papel de porta-voz de algo chamado Deus, o seu teólogo; isto para se destacar e separar mais ainda do animal e da natureza impura, que ele mesmo é. De um lado colocou uma entidade chamada Diabo, e de outro Deus, e diz que se deve escolher Deus; e mais: dentro de determinada religião que o gestiona e não outra, e se não for assim você será do time do Diabo, sutilmente, mesmo que não se fale assim.

A dualidade é a mãe, o pai e o amante do ego, pois o ego se alimenta dela como um viciado em consumir algo todos os dias: cigarro, café, açúcar, tíquetes da igreja, cerveja. A grande projeção do Ego é um Deus à sua (falsa) imagem ideal: poderoso, infinitamente bom (mas castigador), omnipotens, omnisciens, sanctissime, altissime summum bonum, aeternum, infinitum, perfectissimum, ou seja, tudo o que nossa megalomania gostaria de ser, mas não é; disso, temos somente alguns fragmentos. Talvez quem sabe a Vida contenha algo disso. O Deus que o mundo judaico-cristão cria, afastou-nos também da Natureza. É hora, agora, como o fez São Francisco de Assis, de religar as coisas, irmaná-las. Nós estamos no mundo, e somos todos os seres. Os que queremos e os que não queremos, estranhos, ameaçadores, enlouquecedores.

 

Dualidade: A Companheira do Ego:

 

O ego é um mestre em criar dualidades em nossas vidas. Ele tende a categorizar o mundo em termos de “gosto” e “não gosto”, criando uma divisão que influencia profundamente nossas escolhas, relacionamentos e visão de Deus. O ego tem muito medo da LOUCURA. Mas é, sem sombra de dúvida, o ser mais esquizofrênico que apareceu. Ele mesmo criou a esquizofrenia, junto com a Sombra. O Ego teme a morte, e tudo o que remeta à ela, como perdas, deixar passar, deixar ir; ele foge disso como o Diabo foge da cruz. O ego, de tão contraditório (como dizia Estamira, a “louca” do lixo), teme a sabedoria, pois no fundo ela o ameaça, com a animalidade, com a simplicidade excessiva. Tudo o que é muito simples, terreno demais, natural demais, animal demais, o ego rejeita. Tudo o que é complexo demais, pelo que o ego pode não compreender e perder-se, ele também rejeita.

 

Resistência à Simplicidade:

 

O ego, como mencionado anteriormente, resiste a tudo o que é muito simples, terreno, natural ou animal. Se um cuidador diz que alimentando-se de frutas, verduras, grãos, água e certa paz o animal humano tem longa vida e pode se curar e ainda por cima mudar positivamente o ambiente, o Ego reagirá de muitas formas: primeiro achará simples demais; segundo dirá que não tem gosto bom (ele precisa de muito açúcar, fritura e sal na boca, pois suas papilas gustativas estão à exaustão); depois dirá que os outros Egos acharão estranho (o Ego teme profundamente o que os outros Egos pensam dele!), depois dirá que foi acostumado com porcarias, depois dirá que você não é santo, ou então pedirá mil provas científicas antes de experimentar, depois dirá que isso não aparece muito na sua tela, depois dirá que isso não move muito a roda da economia. E assim segue a carroça do “progresso”.

O ego flutua ao gosto das ondas. Quando o ego olha para o mundo, ele o coloca instantaneamente no crivo do “gosto ou não gosto”. Essa mentalidade binária pode levar a conflitos desnecessários, pois o ego categoriza as pessoas em amigos ou inimigos, aceitáveis ou indesejáveis. Ele defende você na primeira hora com argumentos super consistentes, e na segunda hora, porque mudou o interesse, ele o ataca. O que ele não gosta, será execrado. Ele só sobrevive porque faz inimigos – aquilo que ele não gosta, a todo tempo. “Eu adoro isso”, modus idolatris. “Eu odeio aquilo”, aquele”, modus bellicus. E só se sente seguro porque une-se aos que gostam das mesmas coisas que ele.

 

Projeção, Identificação e Conformidade:

 

O ego cria o gueto, a massa, e se entorpece com a mesmidade, até afundar-se no narcisismo, como Narciso que se afoga no espelho d’água que ele admira.

 

No fundo, o ego tem à frente somente ele mesmo.

O ego, quando recebe um mestre ou se depara com a sabedoria ou a liberdade verdadeira, faz antes milhões de perguntas, tergiversa, diz que precisa comer algo para se sentir melhor, precisa estar quase sempre mastigando pois estaria preso à fase oral; ou precisa atender o celular, ou precisa comprar algo que esqueceu, ou precisa conquistar certa coisa na vida antes de mudar para uma vida mais simples e natural.

O ego, em sua busca incessante por identificação e diferenciação, projeta no outro o que ele próprio carrega em seu interior. Se algo no outro o incomoda, é porque esse algo ecoa em seu próprio ser. Por outro lado, o ego também deseja possuir aquilo que admira no outro, mas não tem coragem ou condições de se tornar. Além disso, o ego frequentemente busca imitar o que valoriza, seja uma pessoa na mídia ou produto que aparece muito na mídia – o ego o imita, o adora, o tem como eidolon e sonha ser como ele. O ego é um imitador barato; por isto a sua dificuldade de criatividade, e de acessar o subconsciente. Isso leva à conformidade, já que o ego teme o desconhecido e prefere permanecer em sua zona de conforto.

A dualidade é o playground do ego, alimentando-o com conflitos, julgamentos e comparações constantes. Entender essa dinâmica dual é um passo importante para transcender as limitações do ego e encontrar uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.

Neste segundo capítulo da nossa série sobre o “Enredamento no Ego”, o Prof. Marcelo L. Pelizzoli nos revela como o ego cria uma imagem de Deus à sua própria imagem, como a dualidade é sua companheira constante, e como ele projeta no outro o que está dentro de si. Além disso, resistindo tanto ao simples quanto ao complexo, o ego é um ser contraditório e esquivo. Continuaremos nossa exploração na terceira parte desta série, onde examinaremos como podemos transcender as armadilhas do ego e buscar uma conexão mais profunda com nossa verdadeira natureza.

Você está gostando de aprofundar na compreensão das dinâmicas que compõem o Ser Humano, através dessa série? Deixa a gente saber nos comentários quais foram as suas principais percepções?

Continua na parte 3…

Transcendendo o Ego: Uma Jornada Rumo à Sabedoria

Compartilhe:
+1
Sem Comentários

Poste um comentário